Corria o quente mês de junho de 2011 quando aterrei pela primeira vez em Díli, levada pela mão e o olhar de Isabel Nolasco, fotógrafa reconhecida «com uma visão de base documental e humanista». Dos quase 10 anos em que viveu em Timor-Leste, para cumprir diferentes missões profissionais que conciliou com a paixão pela fotografia, Isabel Nolasco apurou o olho na objetiva da câmara, beneficiada pela matéria prima do lugar onde – sejamos unânimes com a opinião de José Ramos-Horta – Deus mora. Nesses 10 anos, Isabel Nolasco juntou um acervo fotográfico único agora apresentado no livro Timor-Leste Do Paraíso | Husi Paraízu, da Poética Grupo Editorial, que havia já publicado o seu primeiro livro Latitudes da Semelhança.

Nesta sua segunda obra, simultaneamente em português e em tétum, assistimos a um «tributo às paisagens e às pessoas nos seus respetivos contextos e cultura». E embora em Timor-Leste encontremos algumas das paisagens mais bonitas do mundo, dignas do postal ilustrado, o que Isabel Nolasco aqui retrata não são os pontos mais icónicos e turísticos que repetidamente vemos. O que a sua lente fotográfica nos traz são fragmentos do tempo e dos espaços em que viveu e pelos quais passou na intenção de registar para além da fragilidade ou da frugalidade. Antes a alma, a personalidade imagética forte, a abnegação, a determinação de um povo que se fez independente contra muitas vontades, as «suas lutas e dificuldades no cumprimento dos dias». O que Isabel Nolasco nos dá, neste seu segundo livro, é um retrato da esperança, da generosidade, da amizade e da tolerância do povo que a acolheu em casa.

Num primeiro capítulo, Do Paraíso (Husi Paraízu), somos levados a visitar lugares encantadores, desde logo no centro, em Díli, como depois também em cenários descentralizados, longe do próprio mapa, como Maubisse, Ainaro, Vemasse, Tibar, Balibó, Ataúro, Maubara, Manatuto, Tutuala, Baucau ou a avassaladora Jaco, provavelmente, um dos lugares mais magníficos. Num segundo capítulo, Do Sagrado (Husi Lulik), testemunhamos lugares incontornáveis na história de Timor-Leste, como o Cemitério de Santa Cruz, em Díli, a Nossa Senhora da Conceição, no Ramelau, Vessoru, em Viqueque, ou o Memorial Vítimas 1999, em Balibó.

Num terceiro capítulo, Do Profano (Husi Profanu), encontramos cenas aparentemente anódinas e triviais, onde também há, lá no fundo do olhar aonde Isabel Nolasco nos leva, o sagrado. E é o escritor Luís Cardoso de Noronha, que introduz o capítulo, que reforça: «Assim faz a Isabel com os seus olhos antes de carregar no botão da sua máquina fotográfica, para eternizar os momentos em que o sagrado se confunde com o profano, a preto e branco». Na última parte, Da Alma de um Povo (Husi Klamar Povo Ida Nian), somos postos olhos nos olhos com os timorenses. E dessa relação, saímos mais puros, mais tolerantes, mais humanos.

No final, é a própria autora que sai transformada: «Vejo com o coração o que tento captar com a câmara». E somos nós. Porque ninguém volta igual de Timor-Leste.

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