Por estes dias, foi do que se falou. Para começo de conversa, morre esse ícone da música – e mais ainda da cultura – do século XX, David Bowie. A semana terminou e, a assinalar não a morte mas a vida, carimbou-se a “epígrafe” dos 15 anos da Wikipédia. Numa aceção mercurial e sanguinária, um não tem a ver com o outro. Há, no entanto, um aspeto central em que os dois podem ser comparados. Constituem ambos verdadeiras instituições camaleónicas, vestidos de sucessivas personagens.

David Bowie desafiou os standards, contrariou as convenções, revoltou-se contra os padrões instalados e, nessa ousadia muito à frente da sua época, criou o glam rock numa atitude e num estilo completamente despreocupados da opinião e do pensar alheios. No lugar de um, foi muitos. Foi os que quis. Mais recentemente, já numa época em que já todos, não raras vezes por via da imitação democratizada, procuram vestir-se das mil e uma maneiras que há por aí, David Bowie estacionou para morrer no fato acompanhado de gravata, na pele do típico senhor inglês polido. Para lá da cacofonia do mediatismo e daquele lugar onde todos hoje se encontram, as redes sociais.

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Quanto à Wikipédia, a enciclopédia online e democrática que acaba de celebrar 15 anos de idade e sobre a qual muito se falou nestes dias, é um fenómeno estridente do dealbar do século XXI com 430 milhões de visitantes mensais em todo o mundo e que, como David Bowie, também se veste de mil e uma roupagens. Soma conteúdos editáveis por qualquer pessoa, subsistindo numa lógica colaborativa de acordo com a qual se prevê a participação livre de qualquer cidadão na criação de raiz ou na edição eternamente acrescentada de novos parágrafos. Está sempre em work in progress e, desde a fundação em janeiro de 2001 por Jimmy Wales e Larry Sanger, veio para se popularizar quase sem igual na Internet. É o sétimo site mais visitado no mundo, deixando à sua frente apenas o Google, o Facebook, o Youtube, o Baidu, o Yahoo e o Amazon.

Wikipedia

O tema forte, em David Bowie, é a meu ver a conservação de uma identidade única e inconfundível que, apesar das suas múltiplas figuras, foi mantida intacta com mestria e golpes de génio. Na Wikipédia, o tema forte diz respeito ao contributo que tem dado, segundo dizem, para a democratização do acesso ao conhecimento. Ou, melhor dizendo, e é nesse campo que a nossa utilização da Wikipédia deve ser recomendada, à informação. O conhecimento é mais complexo e far-se-á de outras “enciclopédias”.

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