De novo em Díli, a caminho de Jaco

Já em Díli, seguiu-se a preparação da ida para Jaco, a ilha virgem na ponta mais oriental de Timor-Leste que nos deixou o coração a bater mais depressa. O caminho de jipe foi conseguido à conta de sacudidelas típicas de um veículo que percorre uma estrada mal calcetada.

A primeira escala, praticamente obrigatória para quem partiu de Díli quase ao final da tarde, seria Baucau. Antes passámos por Manatuto, a terra onde sabíamos ter nascido Xanana Gusmão, o então primeiro-ministro. De quilómetro em quilómetro, com o som da noite calma e o adiantar de várias conversas sobre viagens, chegámos à Pousada de Baucau, onde desejávamos com ansiedade pernoitar confortavelmente. Antes veio um belíssimo jantar, servido pelas “manas” (as empregadas) estouradas pelo movimento e o avançar da hora. À mesa, nem o cansaço que Ataúro ainda causava fez esmorecer uma das melhores conversas que tivemos em toda aquela viagem…


Díli: a cidade que ilumina como Lisboa e o Rio (parte III) 70
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Díli: a cidade que ilumina como Lisboa e o Rio (parte III) 72
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Na manhã seguinte, de novo no jipe, continuámos caminho até Tutuala. Em cada uma das margens da estrada, fomos encontrando pequenas comunidades de timorenses no esplendor do seu dia a dia. À nossa passagem reagiam com intensos acenos de mão e gritos cheios no pronunciar do termo malae, que significa estrangeiro. Do carro dava para perceber as condições precárias em que vivem, das quais se reflete uma grande habilidade para a simplicidade. No meio da estrada surgiam crianças em filas disciplinadas para ver melhor o nosso carro e as gentes que nele iam dentro.

Quando, finalmente, chegámos a Tutuala, uma quantidade inesperada de borboletas (o meu inseto favorito) surgiu no meio da vegetação intensa, escondendo a entrada extraordinária no segundo eco resort que nos acolhia em Timor-Leste. Apenas demos tempo à reserva dos quartos, os últimos então disponíveis e que, por sorte, estavam ainda ali a aguardar a nossa chegada.


Depois de termos garantido os mantimentos necessários para à noite cearmos, rumámos a Jaco num barco frugal de pescadores que, a todo o momento, parecia poder virar-se ao contrário e fazer perder-nos no mar junto a Tutuala. Antes que isso acontecesse, chegámos a Jaco, onde estivémos cerca de cinco horas. Uma pequena língua de terra com 10 km² de área inabitada, com uma beleza natural singular, Jaco abriga algumas espécies de aves endémicas, posicionando-se como agente promotor da biodiversidade, razão que lhe valeu a sua inclusão no Parque Nacional Nino Konis Santana, o primeiro Parque Nacional de Timor-Leste.

Aos olhos dos autóctones, a ilha de Jaco é considerada sagrada. E também aos nossos, pelo menos a partir daquele dia. Possivelmente, foi aqui que confirmei o quanto Timor-Leste pode acelerar-nos o coração… De volta a Tutuala, ceámos num dos espaços comuns do eco resort. Com o estômago já amparado num dos melhores peixes cozinhado pela comunidade local, detivemo-nos noutra das melhores conversas que por lá tivemos. Ali o tempo podia cristalizar-se que não daríamos conta…


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