E mbaixador da música angolana no mundo e de muitos dos timbres internacionais do Jazz em Angola e no continente africano, Ndaka Yo Wiñit, ou a “voz do povo” como todos o reconhecem, é um artista multifacetado, cantor, compositor e investigador cultural. Tem presença nos principais festivais de African Jazz do mundo, como o Cape Town International Jazz Festival ou em Montreal, no Canadá, onde atualmente reside. Nos seus temas musicais, assistimos a ritmos ancestrais e étnicos, caso do Lundongo, que absorvem influências também originárias do Soul e do Blues. Do nascimento, em 1981, no Lobito, até aqui, tem vindo a grafar um estilo único, com a consolidação do seu legado musical em pesquisas sobre etnomusicologia e uma carreira premiada e factos prestigiantes e enaltecedores do seu talento. Aqui, Adriano Dokas, seu nome de registo, celebra numa conversa circunscrita à música a universalidade da linguagem das pautas.


Personaliza a “voz do povo”. Como é que descreve esta responsabilidade?

Mais do que uma responsabilidade, é uma missão, um dever artístico-cultural e cívico.

A opção pela música é um legado familiar e, simultaneamente, uma vocação, certo?

Sim, a música é para mim um património familiar. Nunca foi uma paixão. É muito mais do que isso: é vida, é a minha personalidade.

Africanidade é a marca que imprime na sua pegada musical já internacional. Que diferença faz África na sua linguagem artística?

África faz toda diferença, pela sua infinita composição orgânica em termos rítmicos e criativos. É, ao mesmo tempo, incomum ao nível dos hábitos e plural e convidativa aos ouvidos dos apreciadores.

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E qual a importância de Angola, em concreto, na sua música? É a raiz de tudo? 

Independentemente das fusões que eu faço, Angola é a raiz do meu bem cultural e humano. A importância de Angola nas minhas músicas é de extrema importância cultural e criativa e agradeço por fazer parte da sua riqueza natural humana. Especificamente pelas línguas maternas, os hábitos, os costumes, os contos, os provérbios e a espiritualidade. Exalto, ainda, a ancestralidade nas minhas composições, já que faz de mim um missionário capaz de expressar o valor patrimonial angolano. É uma experiência simultaneamente científica e ancestral.

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O que leva da sua experiência internacional para África? Como contagia as suas raízes com a globalidade que traz de fora? 

Continuo pela América do Norte. Mas sempre que regressar a África levarei comigo muita disciplina, organização e mais amor ao próximo, para que possamos todos encarar a música e a cultura com mais seriedade e inclusão.

Na Universidade de Harvard, sistematizou a sua caracterização da etnia Ovimbundu, seus provérbios, charadas e mitos. A partir de um modelo comunitário muito específico como este, identificamos sentimentos comuns e com interesse para o mundo, não é assim?

Certo. A investigação cultural composta por quatro diferentes temas está na base de tudo o que desenvolvo a nível musical. Relativamente ao tema concreto Lundongo no Lwandu “Ritmos ancestrais de berço”, tenho vindo atualmente a trocar experiências em instituições de arte contemporânea e lecionado as disciplinas de voz e ritmos ancestrais em Montreal.

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Através da música, podemos falar com toda a gente. É esta a sua visão?

Certamente, aprendo todos os dias o quão universal a música é e agradeço ao universo pelo dom recebido, que me tem garantido muita connection humana.

O que lhe falta fazer como músico?

Como músico, falta-me gravar mais álbuns, ter mais prémios e abraçar mais projetos sociais por benevolência.

[Entrevista publicada em articulação com a Baiga Magazine, no âmbito da parceria celebrada entre ambas as plataformas digitais para a promoção de autores, ideias e iniciativas de referência na lusofonia.]

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