Há dias, na data em que celebrei o 1.º aniversário do lançamento do meu livro As Perguntas que Somos, 25 de novembro, segui para Leiria, cidade de acolhimento de 3 dos 34 entrevistados que esta coletânea de entrevistas reúne. Um deles, a Rita Bonifácio, Diretora-Geral da Bonifácio Wines, desafiou-me a ir à inauguração da exposição de pintura do artista Nuno Gaivoto. Disse-lhe imediatamente que sim, sem pensar na reorganização que tive de fazer à agenda, para lá ir. E fui.

Nascido em Tomar, em 1975, e atualmente residente em Ourém, Nuno Gaivoto coleciona exposições individuais e coletivas um pouco por todo o país e desenvolveu obras hoje pertencentes a coleções privadas na Áustria, Inglaterra, Dinamarca, Alemanha ou Japão.

Na exposição que acaba de inaugurar em Leiria, na Galeria Quattro, que tão bem nos recebeu, Nuno Gaivoto parte e regressa ao branco, numa mostra com a designação Sinfonia em Tons de Branco. De alguma forma interpelado pela ideia de Renoir de que não há nada tão difícil e, ao mesmo tempo, tão excitante na pintura como o branco no branco, o artista Nuno Gaivoto parte neste conjunto de quadros que vemos aqui, de diferentes dimensões e grafismos, do branco para regressar, justamente, ao branco. Nestes quadros, assistimos ao repouso de um conjunto de decisões que foram tomadas, invariavelmente, a partir do branco: quanto branco?; começar e recomeçar do branco?; que branco acrescentar à cor?; onde posicionar o branco?



As suas pinturas seguem o estilo que lhe reconhecemos de outros quadros, noutras exposições, do naturalista ao abstrato. Uns surgem da sua observação direta sobre uma fotografia. E vemos figuras proeminentes, expressivas, vistosas, com silhuetas marcadas. Outros exibem formas e formatos menos legíveis, numa exploração dos traços, dos tons sobre branco e dos elementos que se tocam para significar algo. O que agrega todos os trabalhos, sem que cada um perca o seu território de singularidade, é precisamente a decisão implícita sobre o lugar, a posição e a relevância a endereçar ao branco.

Nuno Gaivoto dirige simbolicamente uma orquestra composta por vários tons de branco, a partir da qual são promovidos diálogos visuais com várias cores, imagens, personagens, ritmos. Que reforçam o tamanho do branco, ao qual sempre regressamos. Ou de onde não partimos, afinal. É a arte a ser arte. Numa interpelação do que somos naquela tela em que não estamos nós, mas em que nos vemos. E (re)conhecemos profundamente.

No fim, juntámo-nos vários à volta de uma mesa, no Atlas, no centro histórico de Leiria. Um lugar/casa incrível. Com traço mexicano, onde os antigos quartos de um hostel são agora salas de jantar reservadas, respirando Frida Kahlo, da decoração à comida, dos empregados à banda sonora. Falámos de arte, é certo. Mas o que fizemos, na verdade, foi celebrar a vida.


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