Norte-americano com ascendência açoriana, dada a sua família ancestral ser de São Miguel, nos Açores, Scott Edward Anderson tem pela ilha portuguesa uma paixão que observamos implícita à sua escrita e, em concreto, a este belíssimo Habitar: Um Ecopoema. Recebi-o das mãos da minha editora, Virgínia do Carmo, como um dos títulos fortes que publicara, com tradução da reputada Margarida Vale de Gato. Li-o num ápice. Este livro é – tem efetivamente esse efeito – um lugar em que nos sentimos em casa. Aliás, este livro é uma casa.

O autor situa na Introdução o seu «desejo de uma casa» que está, no fundo, subjacente a toda a obra que escreveu. E embora neste livro não use a palavra saudade, há também ao longo de todo o livro/poema uma manifestação de algo por que se está em busca, mesmo que numa passagem nos seja possível ler, em jeito de pergunta: «Levamos a casa cá dentro?». Ao avançarmos na leitura, apercebemo-nos de que há a propósito da ideia de casa elementos que estão «à parte» e outros que são «parte de».

Estamos sempre em dicotomias nesta leitura. Também se fala «de morar», numa alusão que ora nos parece alinhada com o verbo demorar, ora com os muros que separam e definem fronteiras: «Um limite é onde algo começa». Da diferença entre ocupar uma casa e habitá-la: «Existimos na medida em que habitamos».

«Habitar no sentido de permanência,

de-morar num lugar,

aprender um lugar, intimamente,

é uma forma de estar em casa.»

E Scott Edward Anderson vai mais longe: «A natureza da construção é permitir habitar».

Neste livro, em que encontramos sempre implícita a apologia de Martin Heidegger, considerado o «filósofo do habitar», alcançamos no fim um inventário de significados para o habitar: permanecer, tergiversar, tomar licença, de morar, errar, abandonar, laborar no erro, duvidar. E, de novo, de morar. Demoremo-nos.

Habitar: Um Ecopoema, Scott Edward Anderson 72

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