Numa estada rápida em Évora, nestes últimos dias de 2018, passei inopinadamente por uma das livrarias mais acolhedoras e atrativas que conheci. É independente, inclui no seu portefólio grande e arrumado títulos dos mais variadíssimos autores (fora dos circuitos comerciais habituais, embora desses também tenha alguns), pequenos caderninhos e separadores de livros feitos à mão, com sofisticados designs, muitas edições estrangeiras e, ainda, as figuras de Fernando Pessoa e Luís de Camões um pouco por todo o lado. É a Fonte de Letras. Perto do Templo romano de Évora e da charmosa Pousada dos Loios.

Quem chega à Fonte de Letras, vem para ficar. Para demorar. Para ir além dos títulos. Para cheirar a cor dos livros. Para passar a página. Para entregar o seu tempo aos livros. Sem tempo para contar e sem que o tempo conte. Apenas a contar as letras, cuja fonte, ali, parece ter alma e rasgo.

Comprei uma versão bilingue de uma compilação de poemas de Luís de Camões, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Cesário Verde e, claro, Sophia de Mello Breyner Andresen. Ainda uma edição pequeníssima e ilustrada da Mensagem, de Pessoa. E também um daqueles caderninhos artesanais, sem nada escrito. Para escrever.

Já na caixa, perguntei à senhora há quanto tempo existiam. «Há 18 anos», disse-me, orgulhosa. Perguntei se editavam, dado terem tantos títulos «diferentes». «Não editamos, mas somos uma livraria independente», como quem diz que, por isso mesmo, podem ter tudo. Tudo o que quiserem. Explicou-me, por fim, que no edifício em frente, num espaço cedido pela Fundação Eugénio de Almeida, estava por aqueles dias um jovem artista, que podíamos ver a trabalhar.

Insisto na ideia de Jorge Luis Borges sobre a livraria como «paraíso». A Fonte de Letras, sem dúvida.

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