Com a morte recentíssima de Umberto Eco, surge de novo a evidência de que, um pouco por esse mundo fora, estamos a perder os grandes pensadores contemporâneos, aqueles que ainda iam garantindo um mapa de referências intelectuais sólidas e para os quais, infelizmente, não identificamos, nem em número, nem em calibre, substitutos. Ainda assim (não é que isso seja consolo para a sua morte), surgiu agora o pretexto (para quem, como eu, não o fez antes) para ler O nome da rosa.  

Para além deste, Umberto Eco assinou títulos, como Cinco Escritos Morais, recomendado à minha geração na época da faculdade, e Número Zero, publicado tão recentemente que surge a fazer parecer inverosímil a ida do autor. Para não falar de outro que, ao lado d’O nome da rosa, é um dos mais famigerados dos seus livros, O pêndulo de Foucault.

Um dos rasgos maiores da sua personalidade e, afinal, da sua intervenção cívica, foi a oposição que fez aos lugares comuns. A subserviência trocou-a pelo sentido crítico publicamente assumido. A vulgaridade do pensamento trocou-a pela excentricidade da multidisciplinaridade, com dotes confirmados na filosofia, na semiótica, na literatura, no jornalismo, na inesgotável capacidade de explicar a realidade, mesmo quando ela parecia complexificar-se e desmoronar-se.

Nas dezenas de artigos que a propósito da sua morte rapidamente preencheram as publicações nacionais e internacionais, houve uma referência que me chamou a atenção e que partilho aqui: o escritor e jornalista espanhol Juan Cruz, que entrevistou Umberto Eco por diversas vezes, definiu-o no Babelia (suplemento de cultura do El País) como o «sábio que sabia todas as coisas simulando que as ignorava para continuar a aprender». Talvez seja difícil defini-lo melhor. A meu ver.

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