Antonio Tabucchi está na minha estante desde a minha adolescência, não porque me tenha ocorrido tão cedo que Tabucchi é de facto extraordinário (isso aconteceu mais tarde), mas porque através dele gostava já na altura de ler e conhecer Fernando Pessoa (Pessoa é que parece existir sempre nas nossas vidas, sem um início e sem um fim).

Há tempos, quando li do Carlos Vaz Marques Os Escritores (Também) Têm Coisas a Dizer, que compila várias entrevistas a escritores, foi a de Antonio Tabucchi uma das que mais me entrou pelos ouvidos. Há menos tempo, dizia-me um amigo apreciador do escritor que é obrigatório ler Antonio Tabucchi e, a fazê-lo, começar por Nocturno Indiano. E foi precisamente o presente que esse meu amigo me ofereceu tão generosamente neste meu aniversário.       

Li-o num ápice, desde logo porque é curto, com letras grandes. Mas, sobretudo, porque me encantou o estilo simples, corrido e, ao mesmo tempo, descritivo q.b. a trazer-me à memória o que eu própria senti quando em 2012 fiz também pela Índia uma viagem inesquecível.      

Diz-nos o nosso primeiro contacto com Nocturno Indiano que estamos perante um livro de viagens e a tese é confirmada numa das primeiras páginas, que indica o índice dos lugares percorridos pelo protagonista, com destaque para Bombaim, Madrasta e Goa. Entramos na história e rapidamente somos postos defronte de um narrador-personagem embrenhado numa peregrinação à procura de um português, Xavier Janata Pinto, que ter-se-á perdido na Índia.

Com o avançar da leitura, vai-se sobrepondo a perceção, muito além da literatura de viagens, de que há ali uma saga identitária, tanto por se tratar da busca por um amigo que parece simbolicamente ser a busca que todos fazemos em torno da nossa própria identidade, mas também porque no narrador encontramos indícios do autor, como a admiração por Pessoa. Esta saga identitária surge, ainda, a fazer contrastar a cultura ocidental e a oriental e uma viagem que se faz no espaço e que se faz no tempo. 

Num segundo plano, sobressai então a Índia dos contrastes, do luxo e da ostentação mas também da miséria, da fé mas também do ateísmo, do eu mas também do outro. Nesta viagem de Tabucchi, ouvimos falar da Gateway of India, dos riquexós, das rupias, dos vinhos importados caríssimos e de alguns dos lugares específicos que entre Bombaim, Madrasta e Goa fizeram parte deste itinerário indiano. Mas só num segundo plano…

Escritor italiano, nascido em Pisa, em 1943, Tabucchi tornou-se não só um seguidor apaixonado e atentíssimo da obra de Fernando Pessoa (que traduziu à exaustão para o italiano), como especialista em Língua e Literatura Portuguesa e, ainda, um sério devoto de Portugal. Acabou por se mudar para Lisboa, onde residiu anos e onde faleceu em 2012.

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