O poema A Felicidade, do feérico Vinicius de Moraes, reza assim: A felicidade do pobre parece/ A grande ilusão do carnaval/ A gente trabalha o ano inteiro/ Por um momento de sonho/ Pra fazer a fantasia/ De rei ou de pirata ou jardineira/ Pra tudo se acabar na quarta-feira.

Mas tudo… o quê? O rebuliço? A folia? A própria felicidade? É nesta quarta-feira logo após o Carnaval, a Quarta-feira de Cinzas, que inaugura a Quaresma, o período de 40 dias que segue do Carnaval à Páscoa e que pressupõe jejum, sacrifício, penitência. E, uma vez chegados à Páscoa, estaremos aptos a viver a principal festa do calendário cristão. Mas como há quem ainda hoje interprete à letra, como em Adão e Eva, cada um dos significados cristãos, vale a pena lembrar que jejum, sacrifício, penitência o mesmo são que partilha, bondade, olhar sobre o outro, compaixão.

A Quaresma surge, pois, como um excelente pretexto para viver de acordo com esses valores em dobro, triplo, quádruplo… com maior acuidade e diligência. E isto é válido para crentes e não crentes. Cristãos e não cristãos. Católicos e não católicos. Para todos os que se regem por valores humanistas sólidos. Firmes. Sem negociação.

Nada se acaba na quarta-feira. Tudo começa na quarta-feira. Pois é esse o valor simbólico da Quaresma: uma oportunidade para a conversão, para começar de novo, para fazer melhor. E com essa interioridade chegar à Páscoa, o tempo da ressurreição. Na sua mensagem para a Quaresma de 2017, o Papa Francisco diz-nos que a Quaresma é «um novo começo». É-nos dada na Quaresma, segundo o Papa, «a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade». E como é bom começar sempre de novo a ser feliz…

Que me perdoe Vinicius: hoje, afinal, é quando tudo começa.

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