Neste livro, José Tolentino Mendonça colige um conjunto amplo de aforismos organizados por temas. No tom filosófico habitual, e com citações recorrentes do universo da cultura e das artes, o autor vai mapeando aquelas perguntas que tantas vezes nos retiram da pacatez e da espuma dos dias, para nos provocar e levar em profundidade ao nosso íntimo. E entre as muitas referências culturais, dá destaque à Bíblia, nas palavras de Agostinho «uma escola de escrita e de leitura».

«O encontro com a beleza é tão decisivo que há um antes e um depois, é uma estação nova que começa para a nossa vida», escreve-nos Tolentino Mendonça. E dá o mote para essa beleza que endereça através do título. E que é um chapéu maior para todos os aspetos da nossa vida, desde os mais estruturantes aos mais (só aparentemente) comezinhos. Podemos ler referências à cozinha e à mesa onde nos sentamos para comer. «À volta da mesa celebram-se os eventos fundadores, os nascimentos, os ritos de passagem, os triunfos, mas também o luto, as crises ou a prova». A mesa surge enfatizada por Tolentino Mendonça, pois, como um espaço simbólico fundamental de relação.

São também referidos os caminhos da espiritualidade e da relação com Deus. «Ninguém vive uma vida espiritual fecunda enquanto não for capaz de assumir aquilo que é na sua originalidade». E aprofunda: «A expectativa de Deus é que, na autonomia e na singularidade que somos, possamos viver uma vida bela, arriscar uma vida autêntica». Passa, naturalmente, também pela fé, à qual se refere como uma «estrada», não como um «pódio». E ainda que haja «perguntas para as quais não temos resposta», fala que a «fé é um teste interminável à nossa confiança» e «um lugar sem certezas». A alegria e a felicidade são também partes integrantes do livro, com a nota reafirmada de que a felicidade chega, afinal, naqueles «momentos de graça em que não esperamos nada».

Uma Beleza Que nos Pertence é, ainda, um lugar literário de exploração da imperfeição que nos humaniza. «Na imperfeição é sempre possível começar e recomeçar». E recomeçar com espanto, como nos desafia Tolentino Mendonça. «Precisamos de reencontrar o espanto». E persegue uma ideia estrutural do seu pensamento: «O significado das coisas não é apenas o que elas têm em si, mas o que podemos descobrir que elas têm para nós».

No livro, somos confrontados com a ideia de parar. Da contemplação. Da celebração (que implica desacelerar). E da importância da espera e do que se espera. «Quem quiser conhecer-nos profundamente, aceite ouvir-nos falar daquilo que esperamos». E aí seremos devidamente apresentados.

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