Há um ano, publicava aqui a entrevista a Vítor Feytor Pinto, uma das pessoas que tenho o privilégio de conhecer e a honra de ter entrevistado. Revela em cada palavra um significado inspirado, é dono de uma robusta cultura e, dos seus já mais de 60 anos de sacerdócio, denuncia uma sabedoria a toda a prova e transborda o dom sempre renovado para acolher o outro. Na paróquia que lidera, a do Campo Grande, é tratado por Padre Vítor, mesmo sendo Monsenhor, título que recebeu do Papa Bento XVI. Homem de pontes entre religiões, ideologias políticas, hierarquias e condições socioeconómicas, não diz não a ninguém.  

E é pela força deste ser humano contagiante e extraordinário que falo, à porta do Natal, de um dos livros que li em preparação da entrevista aqui publicada e ao qual voltei este ano: A Vida é sempre um Valor, que é também uma entrevista a Feytor Pinto, conduzida pelo jornalista Octávio Carmo. Neste livro/entrevista, que me lançou as pistas certas para a minha própria entrevista, Feytor Pinto faz uma viagem pelo seu vastíssimo percurso de vida, situando a sua intervenção na sociedade e apontando caminhos para a nossa própria intervenção.

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Ficamos a conhecer, no livro, quais os argumentos de Feytor Pinto na defesa da vida como valor e o sentido que devemos reclamar-lhe – à vida – independentemente das circunstâncias, das dificuldades, do enquadramento. Com frontalidade, avança que «(…) ainda estamos longe de conseguir oferecer, à sociedade, os valores cristãos que poderiam mudar radicalmente a sociedade». Mas indica o caminho: «os grandes valores estão sempre cá dentro, não posso sacrificá-los, nunca». Sobre a importância da solidariedade (palavra tão gasta), recorda: «(…) ser solidário é assumir o peso do outro, levá-lo também comigo». Pelo meio, clarifica o papel da economia: «(…) é preciso ter em consideração que a pessoa humana é mais importante do que a economia. A economia que não serve a pessoa está em pecado, é pecaminosa.» Desconstrói mitos tradicionalmente associados ao sofrimento e recorda criticamente que «(…) a felicidade no mundo contemporâneo é a felicidade do ter, do poder e do prazer» que, segue, «(…) estão terrivelmente agarradas ao ser humano». E, mais uma vez indicando o caminho, Feytor Pinto sugere para substituir o ter, a partilha, trocar o poder pelo serviço e dar oportunidade à felicidade da comunidade, mais do que ao prazer.

Dono de um pensamento suculento, com uma visão profundamente crítica, Feytor Pinto é ao mesmo tempo um ser humano de uma enorme generosidade e é com ela que aborda neste livro a vida, a dignidade humana, a ética, a doença e a sexualidade. Em todas as discussões que assegura, sobressai «a centralidade na pessoa de Jesus Cristo». E, nesse pressuposto, não faz compromissos. Está comprometido. O que é bem diferente…

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