Portugal acaba de ser mencionado na cena internacional a propósito da mais recente prestação de dança de Miguel Duarte, o jovem bailarino de Lisboa. Dos seus súbitos 17 anos sobressai uma maturidade artística irrepreensível. Chama-se Miguel Duarte e surge em palco com o equilíbrio brilhante que a dança de competição obriga entre a preparação física e a capacidade de interpretar e representar. Do seu corpo trespassa uma disciplina cénica extraordinária previsivelmente cobrada à ginástica artística, que abandonou pela dança aos 13 anos. Foi um salto de coragem. Na Escola de Dança do Conservatório Nacional, onde prestou provas para se estrear na dança, apresentou-se quatro anos mais tarde do que a norma. Por lá ficou e se dúvidas houvesse sobre a sua real vocação tê-las-ia esclarecido com a bitola internacional pela qual passou a poder medir o seu talento. Da sua última atuação em fevereiro, no conceituado Prix de Lausanne, na Suíça, trouxe o Prémio de Melhor Interpretação de Dança Contemporânea e uma bolsa de formação no valor de 50 mil francos suíços. Com este resultado foram-lhe abertas portas para as melhores companhias de dança do Mundo. Para onde irá de seguida. Entretanto, Miguel Duarte aceitou estar Entre Vistas, numa reação breve mas já refletida sobre a arte de dançar e de a dançar projetar Portugal no Mundo.  Miguel Pinheiro


Depois de se conhecer a sua extraordinária qualificação no Prix de Lausanne, quais foram as primeiras palavras que ouviu de Pedro Carneiro, o diretor da Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa que frequenta?

O professor Pedro Carneiro dirigiu-se a mim, ainda em Lausanne, revelando uma certa satisfação pelo trabalho que realizei no concurso e pelos prémios atribuídos. Não deixando ainda de salientar também o trabalho satisfatório realizado pelos meus colegas, igualmente concorrentes do concurso.

O galardão e a bolsa que trouxe no regresso a Lisboa são sintomáticos da capacidade de levar longe a identidade e a cultura portuguesas. Tem essa consciência?

Tenho consciência sim do quão benéfica uma vitória internacional pode ser para este mundo das artes. Não há dúvida que temos em Portugal bailarinos, coreógrafos e professores de qualidade, deste modo, coube-me a mim mostrar isso. No âmbito destas intervenções internacionais, sou inteirado de uma certa responsabilidade enquanto representante de um país, de um escola e de um enorme grupo de envolvidos, seja por frequentarem o mesmo meio, seja apenas por serem admiradores. A minha vitória não é de maior importância neste aspeto, porém representa a marcação de mais um ponto que tantos bailarinos têm vindo a marcar no estrangeiro, protegendo assim uma futura geração.

Como é possível alcançar uma maturidade artística tão evidente aos 17 anos de idade e com iniciação na área apenas aos 13 (tipicamente, os alunos de dança ingressam no Conservatório aos 9/10 anos)?

Ora, a dança, apesar de forma de arte, tem uma componente física inevitável. Obrigando, assim, a carreira profissional de um bailarino a terminar muito cedo e consequentemente a iniciar igualmente cedo. É-nos então incumbida a necessidade de desenvolver uma maturidade enorme prematuramente. Somos obrigados a crescer mais cedo do que um jovem que não pratique qualquer tipo de atividade física. Tal como somos obrigados a terminar a carreira antes de qualquer pessoa do meio artístico.

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O Miguel Duarte frequentou o Jardim-Infantil Pestalozzi, instituição de ensino que segue uma linha pedagógica com grande incidência na capacidade crítica, na criatividade e na responsabilização cívica. Esta formação foi decisiva para a sua formação artística?

Foi sem dúvida um período bastante enriquecedor. Quando frequentava o Pestalozzi confesso que não existia ainda este sonho e esta ambição de ser bailarino, mas a escola mostrou-me a arte pela primeira vez. Digamos que saí de lá com um leque enorme de conhecimento artístico que poderá ter sido influente para a minha decisão uns anos depois.

O facto de ter começado pela ginástica artística traduziu-se de alguma forma numa melhor preparação para os resultados que já obteve na dança?

A frequência da ginástica artística permitiu-me ter uma rápida preparação e recuperação física daqueles anos que não tive de preparação de dança. Absorvi da ginástica também a disciplina rigorosa que a prática de dança exige.

Recebeu, antes mesmo de participar no Prix de Lausanne, uma proposta da Nederlands Dans Theater (uma das companhias de dança contemporânea mais prestigiadas do Mundo). Acresce que a participação na prova suíça constitui uma rampa de lançamento para qualquer uma das melhores escolas internacionais. Neste momento, portanto, estão todas as portas em aberto. Perante este cenário, qual é a sua expectativa? Qual é a sua ambição?

O concurso do Prix de Lausanne é sem dúvida uma rampa de lançamento para os bailarinos em conclusão dos estudos académicos que ambicionam o ingresso no mundo profissional da dança. A proposta da companhia holandesa Nederlands Dans Theater foi uma oportunidade que entre outras não pude desperdiçar. É uma companhia muito restrita, com um trabalho admirável e impressionante. Companhia de renome que será com certeza um ótimo começo da minha carreira internacional.



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