Não podemos deixar que o tempo dissipe a memória, que é coletiva, da fundação da democracia. E, neste tempo específico, em que arrancam as comemorações dos 50 anos do 25 de abril, trago este livro, Os Filhos da Madrugada, que colige as 26 entrevistas conduzidas por Anabela Mota Ribeiro em 2021, no contexto de um programa de TV que concebeu para a RTP.
Dois critérios estiveram na base da escolha dos entrevistados: terem nascido após 1974 e terem uma história com «merecido reconhecimento público». A declaração da autora é perentória: «Faz-se com mulheres e homens que trazem as marcas do passado, a pobreza, o medo, tudo aquilo que não desaparece de um dia para o outro, e com a alegria do combate, a esperança, uma energia nascente».
Ao longo das diferentes entrevistas, denotamos a marca de um país que depois do 25 de abril de 1974, ano em que 24% da população ainda era analfabeta, passou a ser outro. E disso dão testemunho, num contraponto com os seus próprios pais e avós, Djaimilia Pereira de Almeida, Carmen Garcia, Tiago Rodrigues, Assunção Cristas, Rita Rato, Vítor Cardoso, João Taborda da Gama, Joana Cabral, Mariana Vieira da Silva, Tiago de Oliveira Cavaco, Constança Freire de Sousa, José Reis, André e. Teodósio, João Pina, Bruno Vieira Amaral, Adriana Molder, Joana e Mariana Mortágua, Adolfo Mesquita Nunes, Maria Inês Marques, Gisela João, Loenor Teles, Filomena Cautela, Tatiana Salem Levy, Domingues Folque Guimarães e Nenny.
Anabela Mota Ribeiro, na qualidade de «feminista e defensora das quotas, entendeu «indisputável que pelo menos metade dos entrevistados fossem mulheres». Mas a diversidade representada é maior. O livro, com Posfácio de Pedro Adão e Silva, contempla uma diversidade de idades (dentro do pressuposto cronológico seguido), disciplinas, perspetivas políticas, backgrounds socioeconómicos e culturais.
O mosaico é «polifónico, heterogéneo, complementar», para recorrer às palavras da autora. E permite-nos ver de fora, ainda que também sejamos de dentro. E permite-nos pensar-nos, enquanto pensamos o outro e o país. Esse país que (mesmo que às vezes não pareça) afinal mudou.
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