No tempo em que hoje vivemos, com tecnologia à mão para tudo, esquecemo-nos por vezes que nem sempre foi assim. Félix Nadar, pseudónimo usado por Gaspard-Félix Tournachon, nascido em 1820, em Paris, ficou célebre por assinar fotografias de retrato de alguns dos nomes mais sonantes já à época, da «elite parisiense intelectual», como Charles Baudelaire ou Victor Hugo. «Graças ao seu espírito inovador e engenhoso», Félix Nadar fez fotografias aéreas num balão e abaixo do solo com luz artificial. Formou-se em medicina, mas afirmou-se como jornalista e caricaturista em vários jornais. Morreu com 89 anos em 1910, mas a partir do seu olhar imprimiu à história da fotografia marcos incontornáveis e então inimagináveis. No livro Quando eu era fotógrafo, da saudosa Cotovia, Félix Nadar deixa um testemunho imperdível sobre o que se sabe e o que não se sabe sobre as descobertas em torno da fotografia. E da própria vida, na verdade.

Nos seus diferentes relatos na primeira pessoa, vamos lendo passagens ilustrativas da sua irreverência, do seu inconformismo: «Nunca aceitaria que a objetiva não me mostrasse nada daquilo que ela via». E também da sua humildade: «E como o acaso quis que eu aparentemente fosse o primeiro fotógrafo a voar num balão, coube-me assim uma prioridade que poderia perfeitamente ter pertencido a outro».

O que é também absolutamente impressionante é que Félix Nadar foi um apologista fervoroso do bem: «Procurar a honra antes do lucro é o meio mais seguro de encontrar o lucro com honra». Consciente das movimentações da vida como ela é, sabendo que «tanto a ascensão como a queda se aceleram proporcionalmente à velocidade acumulada», Félix Nadar dá-nos conta da natureza humana. À medida que foi adicionando retratos de pessoas ao seu portefólio, Félix Nadar parece ter medido o pulso à humanidade. No olho concentrado do fotógrafo, esteve sempre depositado o olhar experiente do homem. E é esse filtro marcante que nos é garantido na leitura deste Quando eu era fotógrafo, coletânea das suas memórias vividas.

Na introdução ao livro, assinada por Léon Daudet, assistimos a um orgulho imenso pelo autor: «Entre todos os bons cultivadores da vida que conheci, nenhum manteve, até ao fim da sua lavoura, uma postura tão direita, um olhar tão límpido, um coração tão caloroso». Quando eu era fotógrafo permite-nos mergulhar, a partir da personalidade de um retratista, na alma humana.

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