Este livro não é para fracos, de Ana Moniz, é um tributo à coragem que, bem vistas as coisas, pode estar em cada um de nós, com argumentos fundamentados e apontando para o bem comum. Recorrendo a Edmund Burke, Ana Moniz provoca: «Para que o mal triunfe basta que os bons não façam nada».

A coragem, enquanto fator de mudança individual e coletiva, pode ser adotada pelo conhecimento da cultura dominante e dos valores circundantes, pela apetência para adaptar traços de personalidade a circunstâncias específicas ou pela disponibilidade para acarretar com as consequências de uma atitude assertiva, sem condescendências. Isto é, de uma atitude corajosa.

Na descrição da coragem, a autora, psicoterapeuta, inclui determinantemente assertividade e responsabilidade, essas duas sentinelas da segurança e da confiança de enfrentar uma tensão ou mesmo um tumulto.

Partindo de casos paradigmáticos da psicologia e englobando diferentes geografias e retratados, Ana Moniz expande cada conclusão científica para uma apologia estruturada de diferentes territórios de análise da coragem, como se de laboratórios (humanos) falássemos. A partir desta generalização da coragem, somos remetidos para uma espécie de sebenta conclusiva de cada capítulo, a recomendar estratégias e táticas de interação com as crianças. E eis que entramos no reino da relação entre pais e filhos, filhos e pais.

Paralelamente, vêm as dinâmicas grupais (sendo a cultura portuguesa muito assente no grupo como célula basilar, desde logo a família) e a forma como cada um se integra nos vários grupos a que pertence, afirmando-se (ou não?) com autenticidade e sem medo do pensamento seja de quem for. Será? Bem, uma coisa é certa, diz-nos o livro: «Não se pode querer ser invisível e em simultâneo comunicar com impacto. Tem de se fazer uma escolha: uma coisa ou outra». Para mim, esta é a frase do livro.

A afirmação assertiva de opiniões num grupo, avança Ana Moniz, pode validar os valores do grupo e, simultaneamente, pela exposição convicta de opiniões díspares, pode levar ao conflito desencadeado por uma desenfreada e já instalada incapacidade de se estabelecer um diálogo com os antípodas. São os sinais dos tempos, sabemos.

Neste livro, de leitura rápida, mas instigante, está no centro de todas as atenções a robustez emocional, aquela velha senhora que, mesmo tendo vivido muito, pode sempre vergar ante a teia da primeira vez, com o temperamento por compensar e o comportamento por testar.

No final da leitura, teremos aprendido que todos podemos inspirar e ser modelo perante o outro, significando que o nosso comportamento pode redefinir uma situação. E é assim que, mais uma vez, somos neste livro descobridores do poder que todos temos enquanto portadores de coragem, para voltar ao início. Tão importantes são os bons alunos, como os alunos bons, refere a autora. Talvez porque precisemos cada vez mais daqueles que são, ao mesmo tempo, as duas coisas, com irrevogável autenticidade.

Este livro não é para fracos, Ana Moniz 72

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