«A noção de ESCRITA alargou-se
a TUDO
a QUASE TUDO
porque escrita é sinónimo de IMAGEM»
 

Composta por obras do Arquivo Fernando Aguiar, a exposição O Prodígio da Experiência, de Ana Hatherly (1935-2015), chamou-me a atenção por duas razões. Primeira: desde logo porque na obra da artista multidisciplinar portuguesa há uma chave interpretativa para a escrita como arte manual, como ofício. Como se tivéssemos à nossa disposição uma espécie de pintora da palavra. Segunda: porque esta exposição está alojada num belíssimo espaço bem perto de Lisboa, a Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, em Almada, adquirida pelo município em 1988 e desde então com uma dinâmica sempre crescente e enriquecedora nos campos artístico, cultural e patrimonial.

Lançar o olhar sobre a obra de Ana Hatherly é uma oportunidade declarada para apreciar escultura, pintura, desenho, cinema, poesia, ensaio, vídeo e performance, numa apologia da metalinguagem ou da capacidade para criar o próprio alfabeto e, dessa forma, um pensamento único.

Na exposição O Prodígio da Experiência, obtemos uma visão larga da obra tão plural da artista, com enfoque no seu percurso experimental e nas possibilidades visuais que a palavra foi ganhando nas suas diferentes expressões artísticas. É o desenho que reina nesta exibição da poeta de vanguarda. Constituída por mais de 150 obras do Arquivo Fernando Aguiar, um dos seus principais colecionadores, alcança todas as fases da produção artística de Ana Hatherly. Fica evidente, nesta exposição, que os trabalhos da artista plástica, a pintora, a poetisa, a ensaísta se cruzam. É linha mestra, aqui, a elaboração maior da autora em torno da escrita enquanto algo que se manuseia.

A exposição O Prodígio da Experiência pode ser vista até 9 de setembro. É uma belíssima oportunidade para revisitar a obra de quem, como disse Valter Hugo Mãe, «tinha uma criança muito viva no lugar do coração e punha-se traquinas»… Vamos a isso!

Sobre Ana Hatherly

Nascida, em 1929, no Porto, Ana Hatherly tem o nome escrito em pedra no campo da poesia experimental e na criação de uma linguagem nova que dá à palavra, através do poema desenhado, uma aparência visual. Licenciada em Filologia Germânica e doutorada em Estudos Hispânicos pela Universidade da Califórnia em Berkeley, Ana Hatherly é considerada uma das mais relevantes artistas de vanguarda da segunda metade do século XX, tendo iniciado em 1958 a sua carreira literária, da qual foram absorvidos para traduções europeias e várias antologias internacionais muitos dos seus títulos. Da sua formação constam ainda o cinema e a música. Foi professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, onde cofundou e dirigiu o Instituto de Estudos Portugueses. Diplomada em técnicas cinematográficas pela International London Film School. Cofundou o PEN Clube Português e o seu nome assina a criação das publicações culturais Claro-Escuro e Incidências. A sua obra integrou inúmeras exposições dentro e fora de portas. Faleceu, com 86 anos, no dia 5 de agosto de 2015.

Sobre A Casa da Cerca

A Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea iniciou a sua atividade em 1993, acolhendo um vasto projeto cultural que visa a promoção de ações empenhadas no aprofundamento da investigação e da divulgação da arte contemporânea.

Através de práticas culturais contemporâneas, A Casa da Cerca tem por objetivo a ampla divulgação das Artes Plásticas, privilegiando o Desenho, através da realização regular de exposições (individuais, coletivas e temáticas), bem como um conjunto de atividades paralelas daí decorrentes, contribuindo para afirmar o município de Almada como centro de cultura e sublinhando a sua vocação como centro de eventos e acontecimentos culturais de crescente importância nacional e internacional. O desenvolvimento destes objetivos assenta, fundamentalmente, nos seus recursos internos: Serviço Educativo, Centro de Documentação e Informação e Jardim Botânico.


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