Se há benefício relevante que a liberdade instaurada com o 25 de abril de 1974 consagrou foi o livre acesso a um dos elementos mais agregadores de tecnologia, arte e conhecimento, a baixo preço: o livro. Embora nos dias que correm surja tímido nas nossas rotinas, tão invadidas pelas solicitações tecnológicas e a inerente dispersão da informação, o livro continua a ser um garante do aumento do grau de literacia e da capacidade de produzir riqueza material e imaterial.

Precisamente porque estamos, sem dúvida, sempre a ser bombardeados, assolados, manipulados com a demasiada informação que circula por essa miríade de ecrãs, o ato de ler é hoje mais do que nunca fundamental e intransmissível. O livro é um instrumento de crescimento, uma chave para a descodificação e a interpretação do real. Materializa uma forma de libertação da servidão para a qual somos tentados, sem nos apercebermos, nesta sociedade amplamente tecnológica, ameaçada por um registo populista e genericamente caracterizada pela ausência de sistemas e figuras de grande craveira.

Lia há dias, no Observador, uma belíssima entrevista à comissária do Plano Nacional de Leitura (PNL), Teresa Calçada, que refere que a «escola massificou o uso dos livros mas não os verdadeiros leitores». E, de facto, como também nos diz Teresa Calçada, nem todos terão afinal de ser leitores exaustivos, mas se se compreender o salto quântico que o livro nos imprime… A entrevistada recorda-nos, também, o livro como entidade fundadora da civilização: «(…) as três maiores religiões monoteístas [cristianismo, judaísmo, islamismo] são simultaneamente religiões do livro, da leitura como relação com o sagrado». E remete para o PNL a ambição de se posicionar como promotor dessa «história». Quem fala na leitura, fala na escrita e, mais tarde, na imprensa e na multiplicação da palavra escrita.

Mas com a predominância da imagem, hoje, em detrimento da palavra, da frase, do texto, há um défice da capacidade de compreender, do pensamento simbólico, da pluralidade do raciocínio e da linguagem. Teresa Calçada fala-nos, na entrevista, da premissa do PNL: «ler é compreender». Ora, a compreensão pressupõe o domínio de vocabulário, o qual traduz uma importante marca social, um sintoma da superação geracional da pobreza.

Neste dia, neste espaço que também dedico aos livros e à consciência social aonde a literatura sempre nos leva, fica um tributo ao LIVRO, uma das invenções humanas mais transformadoras e arrebatadoras de sempre.

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