Quando me encontro num lugar fora da minha rotina, como aconteceu há dias na Ericeira, interesso-me pelos espaços dedicados à cultura e às artes, na medida em que os mesmos serão de alguma forma sintomáticos das tradições, do nível cultural, da sensibilidade da população.
E por isso me impressionou olhar para a Casa de Cultura Jaime Lobo e Silva, na Ericeira, muitíssimo bem conservada e onde por aqueles dias encontrei aberta ao público a exposição “Janelas Goesas – Arquitetura Indo-Portuguesa”, da autoria de Adelino Fernandes.
Organizada pela Sociedade Lusófona de Goa em colaboração com a Câmara Municipal de Mafra, esta exposição alberga 22 fotografias projetando janelas tipicamente goesas retratadas a partir de Margão, a segunda maior cidade do Estado de Goa, também uma das mais antigas e considerada capital cultural. Destas janelas em exposição na Ericeira, vemos os traços característicos das residências das elites, porventura misturando aspetos de um primeiro ciclo da arquitetura indo-portuguesa, afeto ao período colonial, e de um segundo ciclo, indexado às famílias autóctones.
São vários os tipos de janelas em destaque, cobrindo os diferentes ornamentos, com «(…) alpendres, escadarias, gradeamentos, guardas de varanda, pilastras e colunas» e ostentando «(…) diversas formas, de estrutura retilínea ou de verga reta, ortogonais simples, com arcos de volta perfeita, com arcos abatidos, com arcos trilobados, com arcos quebrados e arcos contracurvados envoltos de molduras, com correspondência nos vãos», de acordo com a investigadora Lígia Sampaio, no seu estudo “Casas das elites de Salsete em Goa, entre o século XVII e o século XIX: Elementos para a caracterização da arquitetura habitacional indo-portuguesa”.
“Janelas Goesas – Arquitetura Indo-Portuguesa” é uma viagem a todas as viagens que tenhamos feito à Índia e, claro, uma evidência do património histórico português, que nos recorda que em 1510 Afonso de Albuquerque conquistou Goa e por lá enraizou a construção de uma identidade cultural recortada e consolidada em cima da própria identidade portuguesa, que chega aos quatro cantos do mundo.
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