J oana Sá Cabanelas é uma mulher do norte, designer e artista plástica, com experiência académica dentro e fora de portas, no Porto e em Milão, curriculum profissional em algumas das lojas e fábricas de design mais conceituadas e pegada em cenários cinematográficos e audiovisuais. Versátil, com mão em várias disciplinas artísticas. Observadora e praticante do belo. Com a coragem de quem se lança a solo, fundou em outubro de 2020 a marca de acessórios de design de luxo JUUX, da qual é CEO. É no digital, num ecossistema diverso de canais, que marca presença, divulga e comercializa os artigos 100% portugueses da JUUX, criados com a singularidade dos produtos raros e a preocupação de conciliar elegância e sustentabilidade. Marco fundamental na sua carreira é a chegada das suas peças à Fundação de Serralves ou a plataformas artísticas online internacionais, como a ARTEGIANI, ou nacionais, como a The NITA’s House. Numa conversa com a arte e o design como pano de fundo, Joana Sá Cabanelas fala-nos de um projeto que a projeta empreendedora, para além da artista indiscutivelmente multifacetada. 


Como surgiu a marca que criou de raiz, a JUUX? Tendo nascido em outubro de 2020, é uma filha da pandemia ou a materialização de uma ideia antiga só agora tornada possível?

A JUUX surgiu de uma ideia muito antiga, que me acompanha há vários anos e que foi amadurecendo. Decidi apostar neste projeto, pois acredito no seu potencial e é o projeto da minha vida. Em novembro de 2019, tomei esta decisão e comecei a trabalhar em prol da sua realização, começando do zero relativamente a fornecedores têxteis, técnicas de sublimação, etc. Em outubro de 2020, após ter consolidado uma rede de fornecedores excecional e uma compreensão relativa à técnica e gestão empresarial, lancei a primeira coleção da JUUX, “Emerging Layers”.

Nas suas peças, vemos uma combinação de diferentes disciplinas e categorias artísticas (o desenho, a pintura, as artes plásticas, a fotografia, a ficção…). Revê-se no entendimento (se quisermos, renascentista) de que um artista deve ser multifacetado? 

Na minha opinião cada artista detém o seu próprio mundo e não existe o conceito “regra”. No meu caso, desde sempre soube que a arte fazia parte de mim. Ao longo do meu trajeto pessoal, académico e profissional, sempre senti a necessidade de questionar e aprender mais formas de me expressar dentro do mundo das artes plásticas, design, fotografia, etc. Penso que as várias referências que fui apreendendo e que continuo a explorar ajudam-me a crescer enquanto profissional e trazem teor imprescindível para o cruzamento que eu faço com o meu próprio traço.

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Os seus artigos têm também implícita uma abordagem de temas intemporais da psicologia, como a individualidade, a liberdade, a autoestima, o autoconhecimento. São peças com e para personalidades fortes?

Os temas que abordo nas peças JUUX tocam suavemente em tópicos extremamente complexos dentro do ramo da Psicologia. A minha intenção é sempre criar peças recheadas de significado, storytelling e identificação existencial, abordando temas intemporais e inerentes a qualquer pessoa. O foco é criar uma conexão entre o consumidor e o acessório JUUX. Desta forma, considero que as peças JUUX contêm uma simbologia muito forte e são direcionadas para pessoas interessadas nos temas que abordo e que não tenham qualquer questão em se demarcar e de se expor pela sua singularidade. Muito pelo contrário, que abracem a sua singularidade como a sua maior mais valia.

Os acessórios JUUX são obras de arte que se convertem em acessórios de moda/casa utilizáveis no quotidiano, procurando fornecer ao cliente uma experiência única e enriquecedora. O cliente sabe que quando está a adquirir uma peça JUUX, está a adquirir uma peça de arte, única, de edição limitada, composta por excelentes materiais e acabamentos e fruto de um trabalho sólido, bem estruturado e exclusivo.

O facto de criar produtos únicos pressupõe uma maior relação de proximidade com o seu público? O luxo tem esse pressuposto?

Na minha opinião o conceito de luxo é muito relativo. Na JUUX, trabalho sob o conceito de slow fashion, em pequena escala e peças feitas para perdurar no tempo sem seguir tendências. Cada acessório tem um tempo de maturação e conteúdo extremamente aprofundado e cuidado. O seu processo é muito trabalhoso, muito longo e atravessa inúmeras etapas até à sua finalização. Os acessórios JUUX são obras de arte que se convertem em acessórios de moda/casa utilizáveis no quotidiano, procurando fornecer ao cliente uma experiência única e enriquecedora. O cliente sabe que quando está a adquirir uma peça JUUX, está a adquirir uma peça de arte, única, de edição limitada, composta por excelentes materiais e acabamentos e fruto de um trabalho sólido, bem estruturado e exclusivo. Enquanto CEO da JUUX este é o meu conceito de acessório de luxo.

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No desenvolvimento de peças de autor está subjacente a visão artística individual. Como descreve o carimbo específico da artista Joana Sá Cabanelas? Quais são os seus valores?

Acima de tudo, na JUUX, o meu objetivo e maior foco é estabelecer uma ligação entre os acessórios que crio com o público. Não é de todo um projeto artístico concentrado e fechado em mim mesma, mas sim um projeto aberto em que eu partilho a minha visão sobre determinado tema em busca da auto-identificação e apreciação do público. Enquanto artista, abordo temas com cariz de desenvolvimento pessoal, autoconhecimento, ligações sentimentais, o subconsciente, procurando expor questões existenciais e celebrá-las, aceitando-as e reconhecendo-as como beleza singular e parte imprescindível do nosso próprio trilho.

No seu trabalho podemos também encontrar outras influências artísticas conscientes. Quem são os artistas que a marcam?

Existe um conjunto diversificado de artistas, designers, etc., que são uma constante referência para mim. Dentro de várias referências não poso deixar de salientar Gustav Klimt, René Lalique, Odilon Redon, Olafur Eliasson, William Morris, Rachel Whiteread e enquanto marca de moda, Hermès, Marta Ferri, Dries Van Noten, Etro e Fornasetti.

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O que representou para si ter os próprios artigos em Serralves?

É realmente uma grande honra e orgulho ver a JUUX representada na Loja de Serralves, entre artistas, designers e arquitetos nacionais e internacionais conceituados. O Museu de Serralves é o mais importante museu de arte contemporânea em Portugal, com uma localização única na cidade do Porto e é da autoria do arquiteto Álvaro Siza Viera, Prémio Pritzker de Arquitetura. Sendo natural do Porto, o Museu de Serralves esteve sempre presente da minha vida, desde a infância, adolescência e idade adulta, tendo sido um espaço marcante por vários motivos. É absolutamente um espaço de referência para mim e espero evoluir em conjunto com a Fundação de Serralves.

Antes da criação da própria marca, integrou renomeadas lojas e fábricas de design. O que considera ter aprendido das anteriores experiências profissionais que tenha sido absolutamente fundamental para se lançar a solo?

Sempre fui uma profissional com a necessidade de perceber o princípio, o meio e o fim do projeto em que me envolvo. Desta forma, foi muito importante e extremamente enriquecedor trabalhar como designer de produto, interiores e artista plástica quer em fábricas de grande escala no setor do mobiliário e interiores, como em lojas de design sofisticadas com representação de marcas de luxo nacionais e internacionais. Na minha opinião é igualmente imprescindível compreender as características técnicas e estéticas para criar uma boa solução de design. Através destas competências e de outras tantas, como a elaboração de mobiliário complexo, a comunicação com comerciais de marcas internacionais de excelência, o trabalho de branding e marketing e a capacidade de ser autodidata em inúmeras tarefas, deu-me a perspetiva global do que significa realmente ter um negócio próprio. Estas apreensões foram determinantes para obter a força e resiliência em arriscar criar o projeto JUUX.

A JUUX começa em mim como rastilho, espontânea e verdadeira e pretende ramificar-se de forma natural pelo mundo fora.

Dos ambientes cinematográficos e da televisão, o que absorveu para a artista que hoje tem um nome próprio? Ajudaram a construir a própria “personagem”?

As experiências cinematográficas e televisivas em que participei foram fantásticas e deram-me inspiração para criar noutra perspetiva, sob vários ângulos. Através das mesmas foi possível aplicar todo o espólio artístico que tenho e explorar ao máximo a minha criatividade no mundo da cenografia, da direção de arte e de guarda-roupa, percebendo a importância do mais ínfimo detalhe. No entanto, na JUUX não existe “personagem”. A JUUX começa em mim como rastilho, espontânea e verdadeira e pretende ramificar-se de forma natural pelo mundo fora.

O que lhe acrescentou ter estudado em Milão?

Ter estudado no Politécnico de Milão durante um ano foi das experiências mais enriquecedoras da minha vida, tanto a nível académico, como pessoal. Existe uma cultura e uma enorme bagagem de renome no design italiano, muito próprio, com as quais eu me identifico muitíssimo. Foi uma excelente oportunidade para abraçar e compreender o mundo do design em várias vertentes, explorar barreiras técnicas e estéticas e visitar frequentemente museus, feiras, exposições e galerias mundialmente reconhecidas. Tive a oportunidade de conhecer, estudar e trabalhar com profissionais e pessoas excecionais. Foi um ano de mudanças e experiências radicais inesquecíveis que me levaram a crescer, a conhecer-me melhor e a pensar fora da caixa no fantástico país que é Itália.

Que futuro para a JUUX? 

Expandir horizontes, nunca deixar de inovar, procurar sempre fazer bem e melhor e tornar-se o mais eco-friendly possível.

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